Summerland (2020) e a representatividade em um clichê lgbtq+

Bruna Benini
3 min readAug 20, 2020

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Neste mês de agosto, como comemoração da visibilidade lésbica (não sei se foi este o motivo, mas tomo como verdade), a diretora e roteirista Jessica Swale nos presenteou com o filme Summerland (2020). O romance se passa na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, onde Alice (Gemma Arterton) uma escritora reclusa e independente, abriga sem vontade o pequeno Frank (Lucas Bond), deslocado do ataque de Londres. Inicialmente, Alice pensa em logo livrar-se de Frank pois julga não ter tempo nem paciência para abrigar o menino, no entanto ambos acabam criando uma linda relação de afeto. Não demora muito para perceberem que o destino e os caminhos imprevisíveis da vida os surpreenderiam, tendo mais coisas em comum — e estando ligados por um elo que eles nem imaginam. Gemma Arteron, Gugu Mbatha-Raw e Tom Courtenay estrelam o longa nessa história intensa e emocionante sobre “a resistência do amor nos tempos difíceis” (IMDb).

ATENÇÃO O CONTEÚDO ABAIXO CONTÉM ALGUNS POUCOS SPOILERS

Estamos cercados de romances clichês por aí, a Netflix é campeã em lançar filmes adolescentes com romance clichê, não há quem não goste do quentinho que eles trazem para o coração. Recentemente foi lançado o longa Summerland (2020), dirigido por Jessica Swale. Um filme que entre outros acontecimentos e circunstâncias, retrata o amor de duas mulheres no século XX.

Quem é da comunidade lgbtq+ está acostumando com os finais trágicos para os filmes que abordam este assunto e temática, personagens que gostamos e não ficam juntos — ou devido a morte de algum deles ou pelo medo de viverem o amor que será julgado por todos à sua volta — além é claro do queerbaiting, que é como nos referimos quando “há uma jogada midiática para que os filmes e séries, em geral, possam lucrar ao criar uma tensão romântica/sexual entre dois personagens do mesmo gênero sem a real intenção de fazer o romance acontecer” [RF].

Para surpresa e alegria das cinéfilas e apreciadoras de bom conteúdo lgbtq+, Summerland (2020) veio para aquecer nossos corações e trazer um clichê lésbico abordado da melhor maneira possível.

Muitas produções audiovisuais utilizam do tema com o intuito de qualquer outra coisa que seja, menos trazer um bom romance, para infelicidade da nossa comunidade. Quantos filmes de romance clichê heterossexual vocês veem onde a trama do filme aborda apenas conteúdo impróprio ou onde o contexto nunca é favorável para os personagens? Exato!

É difícil produzir um conteúdo onde o único conflito desses personagens principais seja contar a história de amor? Summerland (2020)provou que não é tão complicado assim — aliás, poucos são os que conseguem isso.

O filme aborda os temas de amor entre duas mulheres, cumplicidade, família, destino e um compilado de outras coisas que você precisará assistir para saber e sentir o coração aquecer-se com a trama.

Confesso que passei boa parte do filme esperando mostrar alguma tragédia que possivelmente tenha acontecido com uma das duas no passado, ou que o final fosse diferente do que foi.

É o trauma causado pela maioria dos filmes “românticos” com temática lgbtq+ que já vieram antes deste. Até os últimos minutos de filme lembro que pensei:

“não é possível que vá terminar assim, não se tem um final feliz nessa comunidade”.

Mas teve! Nem acreditei quando simplesmente acabou o filme e o desfecho era aquele, foi de esquentar o coração e trazer uma paz.

Para aqueles que não entendem o que estou falando, provavelmente ficarão sem entender, mas você que é lgbtq+ entende perfeitamente o que trago aqui.

Tudo o que queremos é mais e mais romances clichês com finais felizes onde os casais homossexuais vivem os felizes para sempre, trazendo-nos a devida representatividade nas telas. De final ruim — infelizmente — já temos a vida real para nos presentear, precisamos de um incentivo e inspirações que nos mostrem a possibilidade de finais felizes.

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Bruna Benini

a licença poética me permite não fazer sentido | relações-públicas, escrevo vez ou outra e sou apaixonada por livros, café, cinema e escrita. |